Fonte: https://www.pensador.com/textos_de_martha_medeiros/
O amor é uma coisa íntima, mas todos
nós temos a necessidade de torná-lo público. É a nossa vitória contra a
solidão. Assim como as torcidas de futebol comemoram seus títulos com
buzinaços, foguetório e cantorias, queremos também alardear nossa
conquista pessoal, dividir a alegria de ter alguém que faz nosso coração
bater mais forte. É por isso que, mesmo não sendo adepta do
estardalhaço, me consterno por aqueles que amam escondido, amam em
silêncio, amam clandestinamente. Mesmo que funcione como fetiche, priva o
prazer de ter um amor compartilhado.
Martha Medeiros
Fonte: https://www.pensador.com/textos_de_martha_medeiros/
Eu, modo de usar:
Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça
dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela
manhã com ótimo humor mas… permita que eu escove os dentes primeiro.
Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha
nocauteante beleza.
Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me
façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca
tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me
conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da
juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite
nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre
por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando
eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser
contrariada. (Então fique comigo quando eu chorar, combinado?).
Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem… gosto de
camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de
pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca,
cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar
às vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros,
releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco
caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente
triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo
meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda
não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que
ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca… Goste de
música e de sexo. Goste de um esporte não muito banal. Não invente de
querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua família…
isso a gente vê depois… se calhar… deixa eu dirigir o seu carro, que
você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres,
tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus
segredos… me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja
algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar… experimente me
amar!
Martha Medeiros